Lima Barreto

1. (UFU 2015.2)

 ―Mamãe, Mamãe!
―Que é minha filha?
―Nós não somos nada nesta vida.
Todos os Santos -Rio de Janeiro-Dezembro de 1921-janeiro de 1922.


BARRETO, Lima. Clara dos Anjos. Tecnoprint/Ediouro, s/d. p. 77.

De acordo com o trecho acima, assinale a alternativa correta.

A) O diálogo entre dona Engrácia e sua filha Clara simboliza de forma alegórica a desumanização da mulher negra e pobre, numa sociedade regida por D. Pedro I, mas manipulada por uma elite branca preconceituosa.
B) Este pequeno diálogo pode ser considerado uma metáfora de uma classe social típica da Primeira República: indivíduos escravos, sem perspectiva de ascensão econômica, os quais lutavam pela assinatura da Lei Áurea.
C) O diálogo entre Clara e sua mãe, Engrácia, que aparece ao final do romance Clara dos Anjos, publicado em plena Monarquia, simboliza a falta de perspectiva da mulher negra, analfabeta e pobre.
D) Este pequeno diálogo, que fecha o final do romance Clara dos Anjos, pode ser considerado uma metáfora do sofrimento de uma classe social que, mesmo com a assinatura da Lei Áurea, continuava estigmatizada etnicamente.




2. (UFU 2015.2)

Uma dúvida lhe veio, ele era branco; ela mulata. Mas, que tinha isto? Havia tantos casos... Lembra-se de alguns...E ela estava tão convencida de haver uma paixão sincera no valdevinos, que, ao fazer esse inquérito, já recolhida, ofegava, chorava, e os seus seios duros quase estouravam de virgindade e ansiedade de amar.
BARRETO, Lima. Clara dos Anjos. São Paulo: Tecnoprint/Ediouro, s/d. p. 100.

A) Elabore um texto explicando quais as consequências advindas do rápido romance entre a ingênua Clara dos Anjos e o conquistador Cassi Jones, em pleno Rio de Janeiro do século XIX.

B) Elabore um texto explicando os motivos da reação negativa de Dona Salustiana, mãe de Cassi Jones, quando Clara dos Anjos a visitou acompanhada de Dona Margarida.











GABARITO

  1. D
  2. A) Consideram-se consequências evidentes do breve relacionamento entre Clara dos Anjos e Cassi Jones: o assassinato de Marramaque − padrinho da protagonista, que desejava alertá-la quanto ao caráter libidinoso e sedutor do rapaz; a gravidez de Clara, bem como a desonra social dessa personagem − já que ela tornar-se-ia mãe solteira em uma sociedade patriarcal que não admitia a geração de descendentes fora do casamento e que pregava a submissão da mulher ao homem; e a tomada de consciência da protagonista, à medida que ela enxerga que sua condição humana nada mais é que o produto da confluência da raça, meio social e momento histórico a que essa personagem está submetida.
B)Mostram-se como motivos preponderantes para que Dona Salustiana repudie Clara dos Anjos: a protagonista ser mulata − descendente de negros e ser pobre – advinda de um subúrbio carioca, além do contexto histórico-cultural do século XIX no tocante à moral e aos papéis específicos da mulher e do homem. Nesse sentido, Clara fica, irremediavelmente, à mercê de ser estigmatizada por sua cor, posição social e momento histórico, elementos igualmente desfavoráveis, ao passo que Cassi Jones é retratado como o oposto racial e social da protagonista, pois ele figura na obra como a
representação do homem branco e de classe abastada. Assim sendo, na ótica de Dona
Salustiana é inadmissível que uma moça como Clara dos Anjos − cuja raça e condição
social destoam daquelas às quais o filho provém − possa assumir um relacionamento com ele, exigir a reparação de uma desonra ou tão pouco pleitear um lugar nos mesmos
círculos sociais.



Nenhum comentário: