Carlos Drummond de Andrade

1º) (ENEM 2014)

                                  Mãos dadas

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história.
Não direi suspiros ao anoitecer, a paisagem vista na janela.
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida.
Não fugirei para ilhas nem serei raptado por serafins.

O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os
homens presentes,
a vida presente.
ANDRADE, C. D. Sentimento do mundo. São Paulo: Cia. das Letras, 2012.

         Escrito em 1940, o poema Mãos dadas revela um eu lírico marcado pelo contexto de opressão política no Brasil e da Segunda Guerra Mundial. Em face dessa realidade, o eu lírico

A) considera que em sua época o mais importante é a independência dos indivíduos.
B) desvaloriza a importância dos planos pessoais na vida em sociedade.
C) reconhece a tendência à autodestruição em uma sociedade oprimida.
D) escolhe a realidade social e seu alcance individual como matéria poética.
E) critica o individualismo comum aos românticos e aos excêntricos.

2º) (UEM 2015) Assinale o que for correto sobre o poema abaixo e sobre seu autor, Carlos Drummond de Andrade.


                              No meio do caminho

No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.
(ANDRADE, Carlos Drummond de. Antologia poética. São
Paulo: Companhia das Letras, 2012. p.237)


01) O poema marca um momento de mudança radical na obra de Drummond (representando sua adesão ao grupo de Poesia Pau-Brasil, de Murilo Mendes) após suas obras iniciais parnasianas.
02) Embora tenha sido amplamente aceito por alguns grupos modernistas, “No meio do caminho” encontrou resistência por parte de Oswald de Andrade, que o considerou uma reflexão alienante de cunho antinacionalista.
04) Drummond, em suas obras iniciais, ganhou a alcunha de “imaginação de pedra”, devido à insistente reprodução de paisagens típicas de Minas Gerais em seus poemas, como se nota no elemento recorrente do texto reproduzido.
08) Ainda que o poema “No meio do caminho” traga marcas das novas propostas poéticas da primeira geração modernista, Drummond, cronológica e esteticamente, faz parte da segunda geração do modernismo brasileiro.
16) Apesar de uma aparente simplificação monotemática, o poema traz um dos temas caros a Drummond, o tempo, que é trabalhado com profundidade lírica.





(IFMA 2016) Leia com atenção as duas primeiras estrofes do poema “Carrego comigo”, de Carlos Drummond de Andrade e responda à questão 3.

Carrego comigo

Carrego comigo
há dezenas de anos
há centenas de anos
o pequeno embrulho.

Serão duas cartas?
será uma flor?
será um retrato?
um lenço talvez?

Já não me recordo
onde o encontrei.
se foi um presente
ou se foi furtado.

Se os anjos desceram
trazendo-os nas mãos,
se boiava no rio,
se pairava no ar.

Não ouso entreabri-lo.
que coisa contém,
ou se algo contém,
nunca saberei.
(...)

(ANDRADE, Carlos Drummond de. Carrego comigo. In: Reunião: 10 livros de poesia. 
A Rosa do Povo. Rio: José Olympio, 1977.p. 7.)



3º) Considerando as informações contidas no poema acima, constatamos que:

a) o eu-lírico afirma que carrega consigo um pequeno embrulho, e o descreve concretamente.
b) o eu-lírico afirma que carrega consigo há dezenas de anos um pequeno embrulho, que fora furtado.
c) o eu-lírico afirma que já não se recorda se carrega consigo um pequeno embrulho que poderia ser cartas, flores ou um retrato.
d) o eu-lírico afirma que carrega consigo um pequeno embrulho, sem, no entanto, descrevê-lo concretamente.
e) o eu-lírico afirma que já não se recorda do pequeno embrulho entreaberto.






GABARITO

  1. D
  2. 08+16 = 24
  3. D









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