Manuel Bandeira

(IFPE 2016) TEXTO 01 - Questões 1 e 2

Profundamente

“Quando ontem adormeci
Na noite de São João
Havia alegria e rumor
Estrondos de bombas luzes de Bengala
Vozes cantigas e risos
Ao pé das fogueiras acesas.
No meio da noite despertei
Não ouvi mais vozes nem risos
[...]
Onde estavam os que há pouco
Dançavam
Cantavam
E riam
Ao pé das fogueiras acesas?
— Estavam todos dormindo
Estavam todos deitados
Dormindo
Profundamente
Quando eu tinha seis anos
Não pude ver o fim da festa de São João
Porque adormeci
Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo
Minha avó
Meu avô
Totônio Rodrigues
Tomásia
Rosa
Onde estão todos eles?
— Estão todos dormindo
Estão todos deitados
Dormindo
Profundamente.”

Manuel Bandeira, Libertinagem.

1º) Como se sabe, conforme fatores biográficos, a poesia de Manuel Bandeira é constantemente marcada pelo tema da morte. No poema “Profundamente”, esse tema é marcado

a) pelo uso de imagens do tempo de criança do poeta.
b) pela relação temporal de retomada do passado e associação com o presente.
c) pela imagem reconstruída da festa de São João, metáfora do passado.
d) pelo uso metafórico da ação de dormir, que retrata a ausência das pessoas que estavam na festa.
e) pela citação de nomes de pessoas que certamente já haviam morrido, como Totônio Rodrigues, Tomásia e Rosa.

2º) Profundamente foi publicado na obra Libertinagem, em 1930. Composta por poemas escritos entre 1924 e 1930, Libertinagem é considerada a obra mais vanguardista e modernista de Bandeira. Com base nessa informação, que característica(s) marcadamente modernista(s) pode(m) ser apontada(s) em Profundamente?

a) Melancolia e subjetivismo.
b) Preferência por versos livres e quebra de paradigmas com a forma fixa.
c) Uso de Vocabulário rebuscado para tratar de temas simples, como morte e saudade.
d) Saudosismo pela infância.
e) Utilização de jogo linguístico através de verbos usados no sentido conotativo.


3º) (ITA 2015) O poema abaixo, de Manuel Bandeira, pertence ao livro Lira dos cinquentanos.



 O poema apresenta uma diferença entre
I.  o passado (a infância) e o presente (a velhice) vivido pelo eu lírico.
II. um espaço puramente natural (o campo) e outro sociofamiliar (a casa).
III.  o que é desfeito pelo tempo (a casa) e o que ele não apaga (a lembrança).
IV. a chácara (espaço ideal) e a cidade (espaço arrasado pela usura).

Estão corretas apenas:

A ( ) I, II e III.        B ( ) I, II e IV.
C ( ) II e III.            D ( ) II, III e IV.
E ( ) III e IV.


4º) (UFU 2015.2)

         O último poema
           Manuel Bandeira

Assim eu queria o meu último poema
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.

BANDEIRA, Manuel. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996, p. 223.

De acordo com o poema acima, assinale a alternativa correta.

A) Neste poema de versos regulares, o eu lírico emprega o metadiscurso, debruçando-se sobre seu próprio fazer poético.
B) Neste poema de versos livres, o eu poético lança mão da metalinguagem para refletir sobre o seu próprio processo criativo.
C) Neste poema de versos brancos, o eu lírico, pelo processo metalinguístico, compara a poesia ao suicídio.
D) Neste poema de versos rimados, o eu lírico, pelo processo da metapoesia, compara o fazer poético ao diamante.

5º) (ENEM 2014)

                                                    Camelôs
           Abençoado seja o camelô dos brinquedos de tostão:
           O que vende balõezinhos de cor
           O macaquinho que trepa no coqueiro
           O cachorrinho que bate com o rabo
           Os homenzinhos que jogam boxe
           A perereca verde que de repente dá um pulo que
           engraçado
           E as canetinhas-tinteiro que jamais escreverão coisa
           alguma.
           Alegria das calçadas
           Uns falam pelos cotovelos:
            - " O cavalheiro chega em casa e diz: Meu filho, vai
           buscar um
           pedaço de banana para eu acender o charuto.
           Naturalmente o menino pensará: Papai está malu...”
           Outros, coitados, têm a língua atada.
           Todos porém sabem mexer nos cordéis como o tino
           ingênuo de
           demiurgos de inutilidades.
           E ensinam no tumulto das ruas os mitos heroicos da
           meninice...
           E dão aos homens que passam preocupados ou tristes
           uma lição de infância.
BANDEIRA, M. Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2007.


       Uma das diretrizes do Modernismo foi a percepção de elementos do cotidiano como matéria de inspiração poética. O poema de Manuel Bandeira exemplifica essa tendência e alcança expressividade porque

A)  realiza um inventário dos elementos lúdicos tradicionais da criança brasileira.
B) promove uma reflexão sobre a realidade de pobreza  dos centros urbanos.
C) traduz em linguagem lírica o mosaico de elementos de significação corriqueira.
D) introduz a interlocução como mecanismo de construção de uma poética nova.
E) constata a condição melancólica dos homens distantes da simplicidade infantil.



(IFPE 2015) Texto 5 – Serve de base para as questões 6 e 7.

SATÉLITE (Manuel Bandeira)


Fim de tarde.
No céu plúmbeo
A lua baça
Paira
Muito cosmograficamente
Satélite.

Desmetaforizada,
Desmistificada,
Despojada do velho segredo da melancolia,
Não é agora o golfão de cismas,
Os astros dos loucos e dos namorados.
Mas tão-somente
Satélite.

Ah Lua deste fim de tarde,
Demissionária das atribuições românticas,
Sem show para as disponibilidades sentimentais!

Fatigado de mais-valia,
Gosto de ti assim:
Coisa em si:
- Satélite.


BANDEIRA, Manuel.
Disponível em: <http://www.poesiaspoemaseversos.com.br/manuel-bandeira-poemas/#.VDNP55jkjd0>.
Acesso em: 30 set. 2014.



6º) Com relação à compreensão global do poema de Manuel Bandeira, podemos afirmar que


a) a lua é ligada a um ambiente romântico.
b) a lua é descrita como símbolo do misticismo.
c) a equivalência entre e lua e satélite traduz a forma objetiva que Bandeira a descreve.
d) Bandeira considera a lua um satélite, pois admite que ela desperta sentimentalismos.
e) a lua, enquanto simples satélite, simboliza a melancolia e o astro dos loucos.



7º) A obra de Manuel Bandeira filiou-se ao Movimento Modernista Brasileiro de forma engajada e intensa. Relacionando o poema “Satélite” ao contexto em que ocorreu o Modernismo, analise as afirmativas a seguir.


I.    Em “Satélite”, Bandeira objetiva ressaltar a intenção do poema, não se prendendo, portanto, a formas fixas em suas estrofes, versos e rimas.
II.   Ao retirar da lua todas as conotações subjetivas, amplamente utilizadas pelos românticos e parnasianos, Bandeira reafirma a proposta modernista.
III.  O autor, em conformidade com o Movimento Modernista, constrói o poema dando mais importância à forma, em prol de uma maior liberdade literária, para que suas emoções e sentimentalismos aflorem mais que suas ideias.
IV.  Através de construções negativas, por meio do uso do prefixo “des-” (desmetaforizada, desmistificada, demissionária), Bandeira apresenta a lua de forma objetiva, retomando as características românticas comuns ao modernismo.



Estão corretas as proposições:



a) II e III

b) I e II

c) III e IV

d) I e IV
e) II e III

(IFPE 2014) TEXTO 02 - Questões de 8 a 10

POÉTICA



Estou farto do lirismo comedido

Do lirismo bem comportado

Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente protocolo e

[manifestações de apreço ao sr. diretor              

Estou farto do lirismo que para e vai averiguar no dicionário o cunho vernáculo
[de um vocábulo                                                   
 
Abaixo os puristas



Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais

Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis

Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo.

De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante exemplar


[com cem modelos de cartas e as diferentes     

[maneiras de agradar às mulheres, etc.             


Quero antes o lirismo dos loucos

O lirismo dos bêbedos

O lirismo difícil e pungente dos bêbedos

O lirismo dos clowns de Shakespeare

─ Não quero saber do lirismo que não é libertação.




BANDEIRA, Manuel. Libertinagem. In. Estrela da vida inteira.

20. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993. p. 129.




8º) O poema de Manuel Bandeira filia-se ao movimento modernista brasileiro, que, ao longo de seu percurso, foi incorporando diferentes perspectivas, sejam temáticas, formais ou sociais. Considerando o contexto em que se deu o Modernismo, a participação de Manoel Bandeira nesse movimento e tendo em vista, também, a leitura do poema, analise as afirmativas a seguir.



I. O poema representa a ruptura de Bandeira com o lirismo, isto é, o poeta, ao filiar-se ao Modernismo, rejeita os temas românticos e o subjetivismo da arte.
II. O poema de Bandeira constitui uma espécie de modelo das propostas iniciais do Modernismo brasileiro, pois a quebra com os padrões clássicos da arte literária fica evidente não só na temática que desenvolve como em alguns dos seus aspectos formais.
III. O poema apresenta um tom panfletário que lembra os manifestos deflagrados pelos vários movimentos de vanguarda surgidos, no Brasil, a partir da Semana de Arte Moderna.
IV. As diversas enumerações sem vírgula que aparecem no poema, juntamente com a irregularidade métrica dos versos, são características que se firmaram a partir do segundo momento modernista.
V. Após a contestação veemente dos modelos vigentes, o poeta apresenta a sua visão de poesia a partir do verso que se inicia com a forma “Quero antes”.

Estão corretas apenas as afirmativas:

a) I, II e III
b) I e IV
c) I, IV e V
d) II e III
e) II, III e V

9º) No poema de Manuel Bandeira, destacam-se ainda:

I. um título que antecipa a natureza metalinguística do texto;
II. a indecisão entre duas perspectivas de se fazer poesia;
III. a defesa de um fazer poético espontâneo e livre de regras;
IV. a adoção de uma perspectiva mais rígida em relação à arte;
V. uma reflexão técnica sobre os processos criativos literários.

Estão corretas apenas as afirmativas:

a) I, II e III
b) I, II e IV
c) I e III
d) III e V
e) III, IV e V

10º) Na sua chamada “fase heroica”, o Modernismo brasileiro tinha o propósito de combater os movimentos artísticos tradicionais, especialmente os que ainda estavam em voga (Naturalismo, Parnasianismo e Simbolismo). Considerando esse comentário, identifique, entre as opções abaixo, o verso que sintetiza esse posicionamento no texto.

a) [Abaixo] Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
b) Político
c) De resto não é lirismo
d) Quero antes o lirismo dos loucos
e) ─ Não quero saber do lirismo que não é libertação.

11º) (ENEM 2014)

                        Evocação do Recife

A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros
Vinha da boca do povo na língua errada do povo
Língua certa do povo
Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil
Ao passo que nós
O que fazemos
É macaquear
A sintaxe lusíada…
BANDEIRA, M. Estrela da vida inteira.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2007.


        Segundo o poema de Manuel Bandeira, as variações linguísticas originárias das classes populares devem ser

A) satirizadas, pois as várias formas de se falar o português no Brasil ferem a língua portuguesa autêntica.
B) questionadas, pois o povo brasileiro esquece a sintaxe da língua portuguesa.
C) subestimadas, pois o português “gostoso” de Portugal deve ser a referência de correção linguística.
D) reconhecidas, pois a formação cultural brasileira garantida por meio da fala do povo.
E) reelaboradas, pois o povo “macaqueia” a língua portuguesa original.

12º) (IFPE 2016)

Cartas de Meu Avô

A tarde cai, por demais
Erma, úmida e silente…
A chuva, em gotas glaciais,
Chora monotonamente.

E enquanto anoitece, vou
Lendo, sossegado e só,
As cartas que meu avô
Escrevia a minha avó.

Enternecido sorrio
Do fervor desses carinhos:
É que os conheci velhinhos,
Quando o fogo era já frio.

Cartas de antes do noivado…
Cartas de amor que começa,
Inquieto, maravilhado,
E sem saber o que peça.

Temendo a cada momento
Ofendê-la, desgostá-la,
Quer ler em seu pensamento
E balbucia, não fala…

A mão pálida tremia
Contando o seu grande bem.
Mas, como o dele, batia
Dela o coração também.
                     Manuel Bandeira

         A partir da leitura do poema “Cartas de Meu Avô”, do poeta pernambucano Manuel Bandeira, um dos principais nomes do Modernismo brasileiro, podemos dizer que

a) no último verso da primeira estrofe, há uma prosopopeia ou personificação.
b) a expressão “erma, úmida e silente”, no segundo verso, está se referindo à chuva.
c) a palavra “enternecido”, no início da terceira estrofe, tem como sinônimo “quente”.
d) o sujeito de “balbucia”, último verso da penúltima estrofe, é a palavra “pensamento”.
e) em “quando o fogo era já frio”, no final da terceira estrofe, ocorre uma antonomásia.






GABARITO
  1. D
  2. B
  3. A
  4. B
  5. C
  6. C
  7. B
  8. E
  9. C
  10. E
  11. D
  12. A

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