Álvares de Azevedo

(UFLA 2015) Leia, a seguir, o poema para responder às questões 1 e 2.



A MINHA ESTEIRA

Aqui do vale respirando à sombra
Passo cantando a mocidade inteira...
Escuto no arvoredo os passarinhos
e durmo venturoso em minha esteira.

Respiro o vento, e vivo de perfumes
No murmúrio das folhas da mangueira;
Nas noites de luar aqui descanso
E a lua enche de amor a minha esteira.

Aqui mais bela junto a mim se deita
Cantando a minha amante feiticeira;
Sou feliz como as ternas andorinhas
E meu leito de amor é minha esteira!

Nem o árabe Califa, adormecendo
Nos braços voluptuosos da estrangeira,
Foi no amor da Sultana mais ditoso
Que o poeta que sonha em sua esteira!

Aqui no vale respirando à sombra
Passo cantando a mocidade inteira;
Vivo de amores; morrerei sonhando
estendido ao luar na minha esteira!

Fonte: AZEVEDO, Álvares de. Melhores poemas (seleção Antonio Candido). Rio de Janeiro: Global, 2013.



1º) No contexto da consolidação dos valores burgueses no Brasil, o papel social da mulher está ligado ao casamento tradicional. Sendo assim, essa deve ser casta e livre de desejos carnais. O "eu lírico" do poema:

(A) Recusa as convenções burguesas para a mulher através do imaginário.
(B) Estabelece um tipo feminino somente para satisfazer seus desejos.
(C) Evade-se para um mundo onde a mulher é pura, idealizada.
(D) Reafirma as normas da sociedade burguesa para a mulher.

2º) A relação do "eu lírico" com a paisagem, no poema, revela:

(A) a busca, na natureza, de um estado da alma.
(B) o pitoresco nativismo da escola romântica.
(C) o refúgio para lugares estrangeiros.
(D) a simplicidade de um lugar pobre.



3º) (ENEM 2014) 

                      Soneto

Oh! Páginas da vida que eu amava,
Rompei-vos! nunca mais! tão desgraçado!...
Ardei, lembranças doces do passado!
Quero rir-me de tudo que eu amava!

E que doido que eu fui! como eu pensava
Em mãe, amor de irmã! em sossegado
Adormecer na vida acalentado
Pelos lábios que eu tímido beijava!

Embora — é meu destino. Em treva densa
Dentro do peito a existência finda 
Pressinto a morte na fatal doença!

A mim a solidão da noite infinda!
Possa dormir o trovador sem crença.

Perdoa minha mãe — eu te amo ainda!

AZEVEDO, A. Lira dos vinte anos. São Paulo: Martins Fontes, 1996.

       A produção de Álvares de Azevedo situa-se na década de 1850, período conhecido na literatura brasileira como Ultrarromantismo. Nesse poema, a força expressiva da exacerbação romântica identifica-se com o(a)

A) amor materno, que surge como possibilidade de salvação para o eu lírico.
B) saudosismo da infância, indicado pela menção às figuras da mãe e da irmã. 
C) construção de versos irônicos e sarcásticos, apenas com aparência melancólica.
D) presença do tédio sentido pelo eu lírico, indicado pelo seu desejo de dormir.
E) fixação do eu lírico pela ideia da morte, o que leva a sentir um tormento constante.

4º) (UEM 2015) Assinale a(s) alternativa(s) correta(s).


01) Álvares de Azevedo destacou-se no cenário do Romantismo brasileiro como representante do maldo-século, com sua poesia do culto à morte, e também como autêntico poeta byroniano, que cultivou a solidão em seus versos. Duas faces de sua produção poética, embora tratem de situações contraditórias – desejo de amar e desejo de morrer – convivem harmoniosamente em sua obra.
02) Um dos maiores representantes da chamada terceira geração do Romantismo brasileiro, Álvares de Azevedo produziu extensa obra épica, cujas características mais importantes são a ênfase ao nativismo, o sentimento de apego e a valorização da terra natal, como comprovam os versos: “Que sol! que céu azul! que doce n´alva./ Acorda a natureza mais louçã!/ Não me batera tanto amor no peito/ Se eu morresse amanhã.”
04) Macário, peça teatral em dois atos, mostra, no primeiro, a viagem e a chegada da personagem a uma cidade não nomeada, acompanhada por Satã. No segundo ato, surge Penseroso, cujas atitudes diferem das de Satã, e que se mata após a discussão com Macário. No final da peça, há uma cena de orgia na qual se intui a promessa de Satã a Macário: a posse do mundo.
08) No trecho de Macário – “Gosto mais de uma garrafa de vinho do que de um poema. Mais de um beijo que do soneto mais harmonioso. Quanto ao canto dos passarinhos, à lua sonolenta, às noites mais límpidas, acho tudo isso sumamente insípido. Esse mundo é monótono a fazer morrer de sono.” –, Álvares de Azevedo, em vez do culto excessivo da natureza, valoriza a embriaguez do amor, em crítica que visa à mudança de valores estéticos no Romantismo.
16) Na longa viagem que Macário faz com Satã, encontra-se também com Archibald, Johann, Arnold, Solfieri e Bertran, os quais, embriagados, contam histórias fantásticas, de paixão, morte, crimes e perversões, trazendo para o drama um clima sombrio e macabro. Como se trata de obra autobiográfica, que se concentra principalmente nas proezas amorosas do protagonista, esses jovens são identificados como amigos do poeta no Curso de Direito de São Paulo.














GABARITO
  1. A
  2. A
  3. E
  4. 01+04+08=13









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