Machado de Assis

1º) (UFSC 2014)


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TEXTO 2
            Era uma moça de dezesseis a dezessete anos, delgada sem magreza, estatura um pouco acima de mediana, talhe elegante e atitudes modestas. A face, de um moreno-pêssego, tinha a mesma imperceptível penugem da fruta de que tirava a cor; naquela ocasião tingiam-na uns longes cor-de-rosa, a princípio mais rubros, natural efeito do abalo. As linhas puras e severas do rosto parecia que as traçara a arte religiosa. Se os cabelos, castanhos como os olhos, em vez de dispostos em duas grossas tranças lhe caíssem espalhadamente sobre os ombros, e se os próprios olhos alçassem as pupilas ao céu, disséreis um daqueles anjos adolescentes que traziam a Israel as mensagens do Senhor. Não exigiria a arte maior correção e harmonia de feições, e a sociedade bem podia contentar-se com a polidez de maneiras e a gravidade do aspecto. Uma só coisa pareceu menos aprazível ao irmão: eram os olhos, ou antes o olhar, cuja expressão de curiosidade sonsa e suspeitosa reserva foi o único senão que lhe achou, e não era pequeno.
MACHADO DE ASSIS, J. M. Helena. São Paulo: FTD, 1992. p. 26.


Com base na norma padrão da língua portuguesa, na leitura do texto 2, no romance Helena, publicado pela primeira vez em 1876, e no contexto do Romantismo brasileiro, assinale a(s) proposição(ões) CORRETA(S).

01.   A descrição física de Helena, apresentada no texto 2, bem como suas características de personalidade, reveladas ao longo do romance, correspondem, em linhas gerais, ao modelo da heroína romântica: uma jovem bela, submissa ao homem, infantilizada, recatada e ingênua.
02.   Na descrição do olhar de Helena, anuncia-se a ambiguidade de caráter que marcará algumas das personagens femininas da fase realista de Machado, notadamente Capitu, de Dom Casmurro.
04.   Mostrada neste trecho como um anjo, Helena revela-se, mais tarde, uma jovem manipuladora, que não hesita em levar adiante a farsa de ser filha do Conselheiro visando à posição da herdeira.
08.   Uma vez provado que Helena não é, afinal, a irmã biológica de Estácio, o rapaz está livre para tomá-la como esposa; o casamento só não acontece devido à morte de Helena.
16.   Como se pode ver no texto 2, apesar de Helena ser uma obra da fase romântica de Machado de Assis, nela já se encontra a linguagem econômica em adjetivos, comedida, com termos menos carregados de emoção, que irá caracterizar a produção realista do autor.
32.   Com a forma verbal “disséreis” (linha 8) – segunda pessoa do plural do pretérito mais-que-perfeito do indicativo do verbo dizer –, o narrador dirige-se aos leitores, o que é um recurso comum na prosa de Machado de Assis.
64. Na sentença “As linhas puras e severas do rosto parecia que as traçara a arte religiosa” (linha 5), ocorre um desvio de concordância, pois o verbo parecer deveria estar flexionado no plural para concordar com o sujeito “as linhas puras e severas do rosto”. Isso constitui um exemplo da liberdade formal dos românticos.










2º) (ITA 2016) Sobre Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, é INCORRETO afirmar que o protagonista

A ( ) destaca, no período de sua adolescência, a paixão por Marcela.
B ( ) se mostra melancólico no negativo balanço final de suas lembranças.
C ( ) relata com franqueza e sem autocomplacência as experiências que viveu.
D ( ) narra o envolvimento adúltero que teve com Virgília, esposa de Lobo Neves.
E ( ) confessa que a passagem mais triste de sua vida foi a morte precoce de Eulália.


(FUVEST 2015) TEXTO PARA QUESTÕES DE 3 A 5 

Capítulo CVII 
Bilhete 

        “Não  houve  nada, mas  ele suspeita  alguma cousa; está  muito sério e não fala; agora saiu. Sorriu  uma vez somente, para Nhonhô,  depois  de o fitar muito tempo, carrancudo. Não me tratou mal nem bem. Não sei o que vai acontecer;  Deus queira que isto passe. Muita cautela, por ora, muita cautela.” 


Capítulo CVIII 
Que se não entende
             Eis  aí o drama, eis aí a ponta da orelha trágica de Shakespeare. Esse retalhinho de papel, garatujado em partes, machucado das mãos, era um documento de análise, que eu não farei neste capítulo, nem no outro, nem talvez em todo o resto do livro. Poderia eu tirar ao leitor o gosto de notar por si mesmo a frieza, a perspicácia e o ânimo dessas poucas linhas traçadas à pressa; e por trás delas a tempestade de outro cérebro, a raiva dissimulada, o desespero que se constrange e medita, porque tem de resolver-se na lama, ou no sangue, ou nas lágrimas?

Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas.

3º) Atente para o excerto, considerando-o no contexto da obra  a  que pertence. Nele, figura, primeiramente, o bilhete enviado a Brás Cubas por Virgília, na ocasião em que se torna patente que o marido da dama suspeita de suas relações adúlteras. Segue-se ao bilhete um comentário do narrador (cap. CVIII). Feito isso, considere a afirmação que segue:

No excerto, o narrador frisa aspectos cuja presença se costuma reconhecer no próprio romance machadiano da  fase madura, entre eles,

I. o realce da argúcia, da capacidade de exame acurado das situações e da firmeza de propósito, ainda quando impliquem malignidade; 
II. a relevância da observação das relações interpessoais e dos funcionamentos mentais correspondentes; 
III. a operação consciente dos elementos envolvidos no processo de composição literária: narração, personagens, motivação, trama, intertextualidade, recepção etc.

Está correto o que se indica

a) I, somente.
b) II, somente.
c) I e II, somente.
d) II e III, somente.
e) I, II e III.

4º) Ao comentar o bilhete de Virgília, o narrador se vale, principalmente, do seguinte recurso retórico: 

a) Hipérbato: transposição ou inversão da ordem natural das palavras de uma oração, para efeito estilístico.
b) Hipérbole: ênfase expressiva resultante do exagero da significação linguística.
c)Preterição:figura pela qual se finge não querer falar de coisas sobre as quais se está, todavia, falando.
d) Sinédoque: figura que consiste em tomar a parte pelo todo, o todo pela parte; o gênero pela espécie, a espécie pelo gênero; o singular pelo plural, o plural pelo singular etc.
e) Eufemismo: palavra, locução ou acepção mais agradável, empregada em lugar de outra menos agradável ou grosseira.

5º) Os seguintes aspectos compositivos considerados pelo narrador do excerto: concentração e economia de meios expressivos, orientação realista e analítica, previsão do papel do leitor na construção do sentido do texto, suprindo o que, neste, é implícito ou lacunar, podem também caracterizar, principalmente, a obra

a) Viagens na minha terra, de Almeida Garrett.
b) Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida.
c) Til, de José de Alencar.
d) Vidas secas, de Graciliano Ramos. 
e) Capitães da Areia, de Jorge Amado.

6º) (ENEM 2013) 

       Capítulo LIV — A pêndula

        Saí dali a saborear o beijo. Não pude dormir; estireime na cama, é certo, mas foi o mesmo que nada. Ouvi as horas todas da noite. Usualmente, quando eu perdia o sono, o bater da pêndula fazia-me muito mal; esse tiquetaque soturno, vagaroso e seco parecia dizer a cada golpe que eu ia ter um instante menos de vida. Imaginava então um velho diabo, sentado entre dois sacos, o da vida e o da morte, e a contá-las assim:

          — Outra de menos...
          — Outra de menos...
          — Outra de menos...
          — Outra de menos...

        O mais singular é que, se o relógio parava, eu dava-lhe corda, para que ele não deixasse de bater nunca, e eu pudesse contar todos os meus instantes perdidos. Invenções há, que se transformam ou acabam; as mesmas instituições morrem; o relógio é definitivo e perpétuo. O derradeiro homem, ao despedir-se do sol frio e gasto, há de ter um relógio na algibeira, para saber a hora exata em que morre.
      Naquela noite não padeci essa triste sensação de enfado, mas outra, e deleitosa. As fantasias tumultuavam-me cá dentro, vinham umas sobre outras, à semelhança de devotas que se abalroam para ver o anjo-cantor das procissões. Não ouvia os instantes perdidos, mas os minutos ganhados.

ASSIS, M. Memórias póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992 (fragmento).

          O capítulo apresenta o instante em que Brás Cubas revive a sensação do beijo trocado com Virgília, casada com Lobo Neves. Nesse contexto, a metáfora do relógio desconstrói certos paradigmas românticos, porque

A) o narrador e Virgília não têm percepção do tempo em seus encontros adúlteros.
B) como “defunto autor”, Brás Cubas reconhece a inutilidade de tentar acompanhar o fluxo do tempo.
C) na contagem das horas, o narrador metaforiza o desejo de triunfar e acumular riquezas.
D) o relógio representa a materialização do tempo e redireciona o comportamento idealista de Brás Cubas.
E) o narrador compara a duração do sabor do beijo à perpetuidade do relógio.

7º) (UFLA 2015) Referindo-se ao papel do leitor na leitura na obra literária, Machado de Assis comenta, no capítulo V, de Esaú e Jacó: "Há contradições explicáveis. Um bom autor, que inventasse a sua história ou prezasse a lógica aparente dos acontecimentos, levaria o casal Santos a pé ou em caleça de praça ou aluguel; mas eu, amigo, eu sei como as cousas se passaram, e refiro-as tais quais. Quando muito explico-as, com a condição de que tal costume não pegue. Explicações comem tempo e papel, demoram a ação e acabam por enfadar. O melhor é ler com atenção." (1979, p.955). Assim, deve-se entender que:

(A) O leitor deve exigir do narrador clareza para a lógica dos acontecimentos.
(B) O leitor deve buscar, no romance, as explicações para os fatos apresentados no texto.
(C) O leitor é elemento ativo na leitura do romance, devendo imaginar uma relação entre os fatos.
(D) O leitor é elemento secundário na leitura do romance, devendo seguir as informações do narrador.

8º) (SASI 2015) No que diz respeito à obra Dom Casmurro, de Machado de Assis, é correto afirmar que

A) o romance, caracterizado pela ironia, estabelece uma relação intertextual com a tragédia Édipo Rei, de Sófocles.
B) o tema do adultério, tratado de forma ambígua ao longo do romance, é decifrado ao fim da narrativa, quando Capitu confessa a traição ao marido.
C) o título do romance advém de um apelido atribuído ao narrador, Bentinho: “Dom” é um termo irônico que atribui ao personagem “fumos de fidalgo”, enquanto “Casmurro” caracteriza alguém “calado e metido consigo”.
D) ao optar pela temática do adultério, Machado de Assis retoma as características árcades de seus primeiros romances, priorizando a caracterização de personagens idealizados e que se entregam à paixão amorosa.

9º) (ITA 2015) Em Dom Casmurro, de Machado de Assis, Bentinho toma alguns episódios como evidências da traição de Capitu, dentre os quais NÃO consta

A ( ) a impressionante semelhança entre Ezequiel, tanto criança como adulto, e Escobar.
B ( ) o encontro dele com Escobar na porta de sua casa, quando retorna mais cedo do teatro.
C ( ) o fato de Dona Glória, a mãe dele, começar a mostrar-se fria com a nora e com o neto.
D ( ) a emoção de Capitu no velório de Escobar, quando ela tenta em vão disfarçar o choro.
E ( ) a cena em que ele a vê escrevendo uma carta a Escobar, mas ela diz que está fazendo contas.

10º) (SASI 2015)

Texto V
Leia este texto.

CAPÍTULO I - DE COMO ITAGUAÍ GANHOU UMA CASA DE ORATES

       “As crônicas da vila de Itaguaí dizem que em tempos remotos vivera ali um certo médico, o Dr. Simão Bacamarte, filho da nobreza da terra e o maior dos médicos do Brasil, de Portugal e das Espanhas. Estudara em Coimbra e Pádua. Aos trinta e quatro anos regressou ao Brasil, não podendo el-rei alcançar dele que ficasse em Coimbra, regendo a universidade, ou em Lisboa, expedindo os negócios da monarquia. — A ciência, disse ele a Sua Majestade, é o meu emprego único; Itaguaí é o meu universo. Dito isso, meteu-se em Itaguaí, e entregou-se de corpo e alma ao estudo da ciência, alternando as curas com as leituras, e demonstrando os teoremas com cataplasmas. Aos quarenta anos casou com D. Evarista da Costa e Mascarenhas, senhora de vinte e cinco anos, viúva de um juiz de fora, e não bonita nem simpática. Um dos tios dele, caçador de pacas perante o Eterno, e não menos franco, admirou-se de semelhante escolha e disse-lho. Simão Bacamarte explicou-lhe que D. Evarista reunia condições fisiológicas e anatômicas de primeira ordem, digeria com facilidade, dormia regularmente, tinha bom pulso, e excelente vista; estava assim apta para dar-lhe filhos robustos, sãos e inteligentes. Se além dessas prendas,—únicas dignas da preocupação de um sábio, D. Evarista era mal composta de feições, longe de lastimá-lo, agradecia-o a Deus, porquanto não corria o risco de preterir os interesses da ciência na contemplação exclusiva, miúda e vulgar da consorte. D. Evarista mentiu às esperanças do Dr. Bacamarte, não lhe deu filhos robustos nem mofinos. A índole natural da ciência é a longanimidade; o nosso médico esperou três anos, depois quatro, depois cinco. Ao cabo desse tempo fez um estudo profundo da matéria, releu todos os escritores árabes e outros, que trouxera para Itaguaí, enviou consultas às universidades italianas e alemãs, e acabou por aconselhar à mulher um regime alimentício especial. A ilustre dama, nutrida exclusivamente com a bela carne de porco de Itaguaí, não atendeu às admoestações do esposo; e à sua resistência, — explicável, mas inqualificável,— devemos a total extinção da dinastia dos Bacamartes. Mas a ciência tem o inefável dom de curar todas as mágoas; o nosso médico mergulhou inteiramente no estudo e na prática da medicina. Foi então que um dos recantos desta lhe chamou especialmente a atenção, — o recanto psíquico, o exame de patologia cerebral. Não havia na colônia, e ainda no reino, uma só autoridade em semelhante matéria, mal explorada, ou quase inexplorada. Simão Bacamarte compreendeu que a ciência lusitana, e particularmente a brasileira, podia cobrir-se de "louros imarcescíveis", — expressão usada por ele mesmo, mas em um arroubo de intimidade doméstica; exteriormente era modesto, segundo convém aos sabedores”.

Fonte: ASSIS, Machado de. O Alienista. In.: ASSIS, Machado de. Obra Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar 1994. v. II. Disponível
em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000231.pdf. Acesso em 21/05/2015.


Sobre esse texto, é correto afirmar que:

A) Há uma valorização do papel do médico como modelo de crescimento e evolução do corpo social.
B) Há uma alternância de narradores de primeira e segunda pessoas, técnica própria da ficção realista.
C) Há um julgamento dos péssimos hábitos alimentares dos personagens, fator que, certamente, causava dificuldades para D. Evarista engravidar.
D) Há uma ironia do narrador quanto aos critérios escolhidos por Simão Bacamarte ao escolher D. Evarista para ser sua esposa e mãe de seus futuros filhos.




GABARITO

  1. 02 + 32 = 34
  2. E
  3. E
  4. C
  5. D
  6. D
  7. C
  8. C
  9. E
  10. D



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